Entre Armários e Solidão: Reflexões de uma Mulher Lésbica
Esse texto é sobre existir enquanto lésbica e sobre me sentir só.
Desde que eu me descobri uma mulher lésbica, eu me sinto muito mais sozinha. É uma vontade muito grande de pertencimento, mas uma falta muito grande dele.
Na época quando eu não sabia muito bem a minha sexualidade, eu sentia que de alguma forma parecia que eu fazia mais parte de alguma coisa, sem realmente fazer parte de nada. E hoje em dia, que eu tenho total consciência da minha sexualidade, eu me sinto um pouco mais sozinha.
Não que antes eu não tenha crescido ou sido uma adolescente, uma criança sozinha, porque eu sempre fui.
Porém, desde que eu me descobri lésbica, parece que a solidão está sendo mais presente.
E não só a solidão no dia a dia!
O medo de falar para as pessoas que eu sou lésbica, o medo do preconceito e medo de alguém ficar estranho comigo por conta da minha sexualidade é algo que me acompanha diariamente e infelizmente eu tenho que lidar.
Solidão dentro da comunidade
Ultimamente, a solidão dentro da minha própria comunidade tem me pesado mais do que eu gostaria. É como se eu estivesse numa festa, rodeada de outras pessoas lésbicas, mas ainda assim me sentisse encostada no canto, invisível, completamente sozinha.
Isso me dá um sentimento de tristeza e isolamento difíceis de explicar.
Eu queria ter mais amigas lésbicas, porém, normalmente eu não consigo fazer amizade. Às vezes eu tento conversar ou reagir, mas de alguma forma a conversa não flui.
Ter amigas que me entendessem, pessoas com as mesmas vivências que eu, tornaria um pouco mais leve essa solidão.
Carência e autoestima fragilizada
Ultimamente, essa solidão tem me deixando ainda mais carente, porque eu não tenho nenhuma amiga lésbica e não me sinto acolhida na comunidade. Sinto falta de encontrar pessoas da mesma sexualidade que eu para conversar, compartilhar ideias e me sentir compreendida.
Eu queria poder conversar sobre amar outras mulheres e sobre como, às vezes, os relacionamentos sáficos podem ser conturbados, sobre a pressão que sentimos quando não conseguimos simplesmente trocar ideia ou flertar com outras mulheres sem culpa.
Queria poder falar livremente sobre amar e me relacionar com outras mulheres, sem medo de que me julguem por ser ‘lésbica demais’, ‘LGBT demais’, como se isso resumisse quem eu sou, enquanto é só uma parte de mim.
Então, vindo de todas essas características — todo esse medo, essa carência, esse senso de pertencimento e essa vontade de ter alguém — eu percebo que, nos últimos dias, minha autoestima tem estado mais abalada.
Não é como se alguém tivesse olhado para mim e dito que sou feia ou algo parecido. Isso não aconteceu. É só que eu mesma estou me sentindo sem coragem, sem confiança em mim.
Eu não sou o tipo de mulher que tem atitude, que chega em outra mulher, manda mensagem ou puxa conversa. Mas, ao mesmo tempo, também não gosto de ser aquela que fica só esperando sentada. Não é que eu queira esperar; é que me falta coragem. Na minha cabeça, sempre que eu tentar me aproximar de alguém, puxar assunto ou me arriscar, a outra pessoa vai me rejeitar, e isso vai me abalar. Isso acontece porque eu tenho inúmeros problemas de autoestima, de autovisão. Não é que alguém tenha me dito algo ruim sobre mim ou me rejeitado, mas é a forma como eu mesma me vejo.
Medos, tentativas e arrependimentos
Há uns dias atrás, eu mandei mensagem pra uma menina e logo depois eu me arrependi completamente e apaguei a mensagem.
Eu me peguei tomada por uma sensação sufocante, como se o simples ato de mandar uma mensagem já fosse um erro enorme, como se eu tivesse ultrapassado um limite invisível. Era como se tudo desabasse por algo tão pequeno. E mesmo sabendo, lá no fundo, que eu estava sendo dramática, que talvez estivesse exagerando, a angústia era real. Sabe aquela sensação de que nunca vamos ser o bastante para alguém? De que qualquer movimento pode ser interpretado como inadequado, invasivo, até mesmo ridículo? E então, ficamos paralisadas, reféns do medo de rejeição, mesmo quando sabemos que nada é tão grave assim. Esse medo irracional acaba nos impedindo de viver o que poderíamos, de simplesmente tentar.
E eu sei que eu sou o bastante pra conseguir me relacionar com alguém novamente, mas eu odeio o fato de sempre que eu saio de um relacionamento, esse medo de nunca mais conseguir me envolver com alguém me persegue.
Afinal, eu não sou o tipo de pessoa que fica com pessoas. Eu gosto de conhecer, eu gosto de namorar, eu gosto de tudo lento, desse tipo de romance, digamos assim.
“Eu acho que minha personalidade nunca mais vai ser o suficiente boa pra ninguém.”
Eu sei que isso é errado, eu sei que eu não deveria pensar assim, mas é um pensamento que me persegue. Afinal é como se eu tivesse saído de um armário e entrado em outro, como se eu nunca tivesse verdadeiramente livre ou verdadeiramente pronta pra ser eu.
Não sei bem por que estou colocando isso para fora agora, mas sinto que, de alguma forma, alguém vai se ver nessas palavras e entender que essa solidão é menos solitária do que parece!
Se gostou curte e comenta, vou amar saber oque você achou!
eu me sinto igual a você, e quando precisar conversar com alguém, pode me chamar. adorei seu texto, com certeza vou ler os seus outros tb! ❤️
Eu não sou lésbica, sou bissexual e, embora sejamos sáficas, eu não vou me colocar como a pessoa que vai entender o seu lugar porque são vivências diferentes, mas me identifiquei com os pontos que levantou. Sinto muito que tenha se sentido tão solitária e obrigada por compartilhar sua experiência conosco. Parabéns pelo o texto!